A importância do brincar para o desenvolvimento cerebral da criança

Por Dra. Isabel Lacerda – médica, pós-graduada em Neuropediatria

Brincar não é apenas uma forma de passar o tempo — é uma das atividades mais importantes para o desenvolvimento da criança. Por meio das brincadeiras, o cérebro infantil aprende a organizar informações, criar conexões, desenvolver habilidades sociais e compreender o mundo à sua volta. O brincar é o trabalho da infância, e cada jogo, faz de conta ou gesto lúdico é um exercício de crescimento.

Nos primeiros anos de vida, o cérebro se desenvolve de forma acelerada, criando milhões de novas conexões neuronais. As experiências vividas nesse período — especialmente as que envolvem movimento, afeto, imaginação e interação — são fundamentais para a formação das áreas responsáveis pela linguagem, atenção, coordenação motora e regulação emocional. Brincar, portanto, não é um luxo: é uma necessidade biológica.

Quando uma criança empilha blocos, brinca de faz de conta, corre, canta ou desenha, ela está treinando funções cerebrais complexas, como planejamento, memória e controle dos impulsos. Além disso, o brincar estimula a criatividade, fortalece a autoestima e ajuda a lidar com frustrações. É também um espaço de aprendizado sobre empatia, regras e convivência — bases essenciais para a vida em sociedade.

Nos dias de hoje, com a rotina corrida e o uso crescente de telas, muitas crianças têm tido menos tempo para brincar de forma livre e espontânea. Isso pode parecer inofensivo, mas a falta de experiências concretas reduz oportunidades de exploração e aprendizado. O excesso de estímulos digitais, por outro lado, oferece respostas prontas e rápidas, diminuindo a curiosidade e a capacidade de concentração.

 “Brincar é o que há de mais sério na infância. É durante o jogo que a criança experimenta, erra, cria e aprende. O cérebro infantil precisa dessas experiências reais para se desenvolver plenamente”, ressalta Dra. Isabel Lacerda.

Por isso, pais e cuidadores devem valorizar o tempo de brincar, oferecendo ambientes seguros, materiais simples e presença afetiva. Não é preciso brinquedos caros ou tecnológicos: um espaço para explorar, uma boa história e a atenção de um adulto são suficientes para que a imaginação floresça.

Garantir o direito de brincar é, acima de tudo, garantir um desenvolvimento saudável, equilibrado e feliz. Entre tantos compromissos e telas, o maior presente que uma criança pode receber é tempo para ser criança.